Sem culpa ou vergonha!
Sem vergonha de ler aquilo que gosta; sem culpa de passar horas diante de um livro; sem vergonha de interromper a leitura quando bem quiser; sem culpa de largar um livro e começar outro... Já pensou nisso tudo?
Nunca na nossa história lemos tanto e tivemos tanto acesso a tantas coisas escritas. Impressas ou digitais. Estamos o tempo todo lendo mas quando alguém nos pergunta sobre o que nos dá prazer na leitura, muitos de nós simplesmente desconversa: "ah, faz tempo que não leio um livro..."
Por que será que temos dificuldade em assumir que a leitura nos dá prazer? Por que temos vergonha de dizer que adoramos ler uma notícia mas destetamos romances? Ou que amamos ler no celular mas ter um jornal nas mãos nos incomoda?
Ler não é algo fácil. A leitura é generosa mas, como uma boa amizade, precisa de tempo e certa dedicação. E de entrega, paciência, mente aberta. Por isso insistimos aqui na formação do leitor desde muito cedo. Ainda bebê, podemos ensinar à criança que os livros são uma fonte preciosa de conhecimento e entretenimento; mostrar-lhes que a leitura precisa ser cultivada...
Mas assumir que lemos por prazer parece ser algo ainda mais complexo. Há censuras por todos os lados: é preciso ler o que está na moda, é preciso conhecer os últimos lançamentos, há textos melhores do que outros, no digital não é a mesma coisa que no impresso... E se alguém diz que passou as férias lendo, logo pensam: mas não fez mais nada?!
Estamos na metade de julho e embora não esteja com viagem programada, só o fato de não ter a rotina da escola já libera o meu tempo para ler.
Mais uma vez separo os livros que mais gosto: um romance, um livro informativo sobre a escrita, dois livros de auto-ajuda. Isso mesmo. Sei que terminarei alguns, mas que outros não. Confesso que dois deles venho lendo desde janeiro, bem devagar. É como se não quisesse terminá-los pois sei que sentirei a falta deles... Não tenho vergonha e nem culpa pelos livros que escolhi para ler. Mas confesso que não poderei falar sobre eles para qualquer um...
Mais uma vez me preparo para ler. Isso mesmo. Tenho um ritual. Como é inverno, meias quentinhas, meu chá preferido, se precisar uma manta está por perto.
Faço o mesmo com meus filhos. Já são adolescentes e não posso controlar se efetivamente lerão ou não os livros que escolherem. Mas convido-os a participar deste ritual, a leitura das férias. O caçula prefere livros digitais. "No celular é mais fácil, mãe". Já a mais velha me surpreende. Começou a ler os meus romances. Desfruta da herança recém descoberta: os livros da biblioteca da família.
A leitura e a vida caminham juntas. Os livros são, invariavelmente, um prolongamento infinito da vida, dando-lhe novas dimensões e contornos.
Aproveite esse final de julho e reserve, sem culpa ou vergonha, um tempinho para a sua leitura. Ah, e o bebê e o resto da criançada?! Diga-lhes que agora é a sua vez de ler e permita que eles desfrutem do prazer de vê-lo(a) sem culpa diante de um livro!
P.S. Este post foi inspirado no artigo "A leitura desavergonhada" de José Francisco Botelho (Veja - 14/jun/2017). O livro que aparece na imagem que ilustra este post é "A amiga genial", de Elena Ferrante, publicado pela Editora Globo Livros (série Biblioteca Azul).